sábado, 17 de maio de 2008

Saudades que Zélia e Jorge Amado deixam no Brasil


“Continuo achando graça nas coisas, gostando cada vez mais das pessoas, curiosa sobre tudo, imune ao vinagre, às amarguras, aos rancores.”

Zélia Gattai


Saber da partida da escritora Zélia Gattai nesta tarde de Sábado me deixou triste... Quando li o livro Jardim de Inverno, o quarto livro de Zélia, que reunia recordações do exílio e do continente europeu dividido em leste e oeste, fui completamente tomada por aquela narrativa .
Mesmo assim Zélia dizia que nunca teve pretensão literária e que se inspirava nas histórias que viveu. Jardim de Inverno recebeu o Prêmio Destaque do Ano e acabou gerando um convite para uma visita à Rússia de Gorbatchev e sua mulher Raissa


Filha de imigrantes italianos, Zélia Gattai Amado nasceu no dia 2 de julho de 1916, na capital paulista. Foi em São Paulo, no bairro do Paraíso, que passou toda a infância e a adolescência. A família da escritora foi bastante atuante no movimento político-operário. A casa dos Gattai foi palco de fervorosos debates – inspiraram o primeiro livro da escritora: “Anarquistas, graças a Deus”. Lançada em 1979, a obra ganhou versões em francês, italiano, espanhol, alemão e russo e ainda inspirou uma minissérie homônima na Rede Globo, que foi ao ar em 1984, dirigida por Walter Avancini.

Aos 20 anos, Zélia se casou com Aldo Veiga, intelectual e militante do Partido Comunista. Da união nasceu o primeiro filho da escritora, Luiz Carlos, hoje com 66 anos. Graças ao círculo de amizades de Veiga, Zélia se aproximou da elite intelectual brasileira da época. Desse grupo de amigos, faziam parte os escritores Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Rubem Braga e Vinícius de Moraes. Também ficou próxima dos artistas Lasar Segall e Tarsila do Amaral.

O casamento chegou ao fim após oito anos. Em 1945 conheceu o escritor Jorge Amado no movimento pela anistia dos presos políticos, Zélia já era leitora entusiasta de Jorge Amado. Poucos meses depois, se apaixonaram e passaram a viver juntos. A partir de então, Zélia Gattai trabalhou ao lado do marido, passando a limpo, à máquina, seus originais e o auxiliando no processo de revisão.

Em 1946, com a eleição de Jorge Amado para a Câmara Federal, o casal mudou-se para o Rio de Janeiro, onde nasceu o filho João Jorge, em 1947. Um ano depois, com o Partido Comunista declarado ilegal, Jorge Amado perdeu o mandato, e a família teve que se exilar. Viveram em Paris por três anos, período em que Zélia Gattai fez os cursos de civilização francesa, fonética e língua francesa na Sorbonne. De 1950 a 1952, a família viveu na Checoslováquia, onde nasceu a filha Paloma. Foi neste tempo que Zélia Gattai começou a fazer fotografias e registrar, em imagens, cada um dos momentos importantes da vida do escritor baiano.

“Jorge sempre me dizia: ‘Ao pousar pela primeira vez os olhos em você, meu coração disparou’.


Em 1963, mudou-se com a família para a casa do Rio Vermelho, em Salvador, na Bahia, onde tinha um laboratório e se dedicava à fotografia, tendo lançado a fotobiografia de Jorge Amado intitulada Reportagem incompleta.

Aos 63 anos de idade, começou a escrever suas memórias. O livro de estréia, Anarquistas, graças a Deus, ao completar vinte anos da primeira edição, já contava mais de duzentos mil exemplares vendidos no Brasil. Sua obra é composta de nove livros de memórias, três livros infantis, uma fotobiografia e um romance.

Baiana por merecimento, Zélia Gattai recebeu em 1984 o título de Cidadã da Cidade do Salvador. Na França, recebeu o título de Cidadã de Honra da Comuna de Mirabeau (1985) e a Comenda des Arts et des Lettres, do governo francês (1998). Recebeu ainda, no grau de comendadora, as ordens do Mérito da Bahia (1994) e do Infante Dom Henrique (Portugal, 1986).
A vida sem Jorge Amado
O casamento de Zélia Gattai e Jorge durou 56 anos, até a morte do escritor, em 2001. A história de amor de mais de meio século que viveu com Jorge Amado inspirou alguns de seus trabalhos. Caso da fotobiografia do escritor, “Reportagem incompleta” (1987), além dos livros de memórias “A casa do Rio Vermelho” (1999), “Jorge Amado - Um baiano romântico e sensual” (2002) – em parceria com os filhos João e Paloma – e “Memorial do amor” (2004)

Em 21 de maio de 2002, a escritora passou a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a mesma cadeira que pertencia ao marido: a de número 23. O posto também já pertenceu aos escritores José de Alencar, Machado de Assis, Alfredo Pujol.

Após o falecimento do companheiro, Zélia decide abrir a casa em que viveram juntos por 21 anos e onde receberam personalidades como o escritor Pablo Neruda. Atualmente aberta para visitação, a famosa “casa do Rio Vermelho” será transformada em um museu.

Zélia tinha 91 anos seu corpo será cremado e as cinzas serão espalhadas na antiga casa do Rio Vermelho, da mesma forma como foi feito com Jorge Amado

2 comentários:

Anônimo disse...

Zélia tinha luz própria, era uma nobre mulher.Realmente vai faser falta neste Brasilzao.
Amanda costa aparicio

railer disse...

foi uma grande perda mesmo.