sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A chave da casa do Barão






Esta é a fechadura da casa acima, Casa que foi um dia do Barão de Nova Friburgo, Antonio Clemente Pinto.
Repare nas inscrições das letras no frontão da casa, são as iniciais do nome dele. ACP.
Esta casa do Barão foi um dia símbolo do Poder, também já foi Câmara Municipal, hoje ela é uma escola de arte-educação para cerca de 1300 alunos, estudantes da rede pública de ensino e que são, em sua maioria, oriundos de famílias de baixa renda.
Hoje esta casa é do povo:
Lá os alunos estudam Teatro, Lutheria, Ballet, Dança Moderna, Danças Folclóricas, Literatura, Circo, Teclado, Violão, Teoria Musical, Desenho, Flauta e Canto Coral.
Tenho o orgulho de ser uma das fundadoras desta escola, a Oficina-Escola de Artes de Nova Friburgo, junto da Secretária de Cultura, Maria Amélia, e da Prefeita Saudade Braga que apoiou plenamente a idéia.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O vestido





O vestido / Adélia Prado
No armário do meu quarto escondo de tempo
e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas
à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.

Poesia reunida, Editora Siciliano, 1991 - S.Paulo, Brasil

sábado, 20 de outubro de 2007

Esperança


Esperança
Mário Quintana
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança.
E ela pensa que quando todas as sirenas,
Todas as buzinas,
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E—
ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

"Cowriocas"


(A foto não ficou muito boa pois foi tirada de um celular.
A cow e eu na Praia de Ipanema, perto da Casa de Cultura
Laura Alvin)
As coloridas vaquinhas da Cow Parade invadem a cidade maravilhosa. Este talvez seja o maior evento de rua já feito no Brasil e selecionou artistas cariocas interessados em colocar sua criatividade, literalmente, no lombo de uma vaca.
As vacas são de fibra de vidro e foram pintadas por artistas diversos e ficam espalhadas pelos pontos mais movimentados da cidade, invadindo o Rio de Janeiro. No final da mostra haverá um leilão, onde a renda arrecadada é revertida em prol de um projeto social. No Rio, a organização escolhida foi a “Obra Social da Cidade do Rio de Janeiro”, ligada ao governo municipal.
Com apenas 9 anos de existência, a CowParade já foi vista por mais de 100 milhões de pessoas, em pelo menos 37 cidades em todo o mundo. No Brasil, já passou por Belo Horizonte, São Paulo.
O circuito das divertidas vacas teve início no dia 5 de setembro e termina no dia 4 de novembro, quando haverá o leilão.

sábado, 13 de outubro de 2007

Viva a Criança!

Comemoramos no dia 12 o Dia da Criança, como arte-educadora, sei que a Educação tem enorme poder para que as diferenças sociais sejam minimizadas. O que falta é boa vontade do Poder Público. Um candidato em sua propaganda política faz altas promessas e o que vemos é que assim que entram, eles mudam de opinião e a escola pública continua falida Ora, é óbvio que não é interessante que a educação na escola pública funcione. Cidadãos pensantes sempre foram perigosos, isso é óbvio.
Fala-se tanto na inclusão do aluno, afinal, ele não pode ser excluído. Na minha opinião quem está excluído na sala de aula é o professor, este sim, tem que dar conta de “n” conteúdos, com uma sala lotada, com alunos com vários níveis de aprendizado. Além de ter, entre outras coisas, “domar” certas feras em sala de aula. O professor tem sido o capturado nesta luta perversa.
A sociedade civil precisa acordar desse sono profundo, pois todos pagaremos o preço por tamanho descaso, e depois não adianta muro alto, nem carro blindado, nem ongs, nem nada...A mudança tem que se dar inicialmente nas mentalidades e nas atitudes. Este é um momento onde tudo é prioridade, educação é prioridade, saúde é prioridade, cultura é prioridade porque estamos falando de vidas...Cada um de nós pode começar a fazer alguma coisa...
Então mãos à obra!! E Viva o dia da criança! Viva o dia do professor! Viva Madre Teresa de Calcutá!


sexta-feira, 12 de outubro de 2007

12ª Parada do Orgulho Gay

O Presidente da Eletrobrás teria feito comentários homofóbicos sobre um patrocínio de Furnas para a 12ª Parada do Orgulho Gay no Rio de Janeiro (Furnas, que integra o sistema Eletrobrás, patrocina com R$ 200 mil a 12ª Parada do Orgulho Gay no Rio de Janeiro, que acontece no domingo).
Porém mesmo negando que tenha dado tais declarações, ele, o Sr.Valter Luiz Cardeal de Souza, fez um pedido de desculpas público, a Eletrobrás soltou uma nota oficial negando tais declarações e a Comissão de Direitos Humanos da OAB divulgou uma nota de repúdio. Foi melhor assim para o bem de todos, inclusive para a comunidade gay que com tal episódio saí mais fortalecida em seu movimento.
O que não pode ocorrer é permitirmos que atitudes como estas ocorram. Ainda mais vindo de um representante de órgão governamental. Quem sabe a Eletrobrás com esse “mal-entendido” venha a avançar na estatal nas políticas de direitos dos gays e lésbicas. Já que o próprio presidente disse que “em Setembro de 2007, a Diretoria Executiva da Eletrobrás aprovou benefícios de gênero que permitem a inclusão, como dependentes no plano de saúde, de parceiros de empregados que mantenham relação homoafetiva estável”.
A Parada Gay é um movimento político importantíssimo, sabemos que existem os que estão ali para brincar, desfilar e outras coisas mais, mas isso não diminui em nada a luta pela igualdade e o respeito pela diferença na sociedade. O caminho ainda é muito árduo, o que pode ser percebido com os comentários abaixo escritos por internautas-leitores de um importante jornal sobre o patrocínio para a Parada Gay:

"Não entendo a postura dos homossexuais: se dizem iguais ao heterosexuais e precisam fazer parada de orgulho; pra que se estao felizes? Pedem respeito e liberdade de expressao, mas nao respeitam a opiniao do proximo, taxando de preconceito; querem que todos tenhamos uma mesma opiniao; dizem que tem horror ao sexo oposto, mas se nós heterosexuais dissermos que temos horror ao homossexualismo, nao dos individuos, dizem ser preconceito. Sua vida nao faz sentido!!"

"Homossexualismo é pecado, tem na bíblia. Não devemos achar isso normal, pois não é."

"Acho que os gays são heterofóbicos. Deviam ser processados por coibirem a liberdade de expressão daqueles que são contra suas idéias. Acho que li algo semelhante a isso, ocorrido na Alemanha, por volta da década de 40."

"Por que os homossexuais não começam a fazer alguma coisa em prol dos homossexais mais necessitados então? Existe a preocupação com o nível de escolaridade, da saúde, da habitação, dos menores no centros de recuperação que são estrupados? Por que o show apoteótico? Pra que tanto dinheiro pra uma simples passeata que não dura nem um dia inteiro? Por que a necessidade de se ficar repetindo homofobicos, homofobicos?"

"Infelizmente, se gasta muito dinheiro com “carnavais” de época e fora de época. É uma triste realidade de um país decadente que só sobrevive com pão e circo. Aliás, até o pão está sendo privatizado, sobrando apenas o “circo” armado a plena luz do dia. Quem não concordar, tem o convite de ir morar fora, bem longe daqui. Não diria sair do País – pois é para poucos – mas, ir para o Sul do Brasil. Lá ainda há um mínimo de decência dos homens públicos."

"É um absurdo a sensitivadade do tema censuraram meu comentario...pq disse que cada um tem direito a ter seu ponto de vista....
Não sou anti-gay, mas acredito que queme contra a ideia de homesexualismo tem o direito de ter esse ponto de vista...A liberdade de opinião e pensamento e expressão e defendida em varia areas/temas porque que neste Tema em particular todos tem que concordam e aceitar o que lhe e imposto caso contrario e homofobico ??Democracia tb e liberdade de opinião."

"Dinheiro de estatal em passeata gay? É isso mesmo? Um absurdo gastar dinheiro do povo em algo de tão mal gosto."

"Sinceramente,... qualquer um utilizaria melhor este dinheiro. Infelizmente isto só vem confirmar que o brasileiro vota mal, pois só colocamos cabeçudos e incompetentes na política. O POVO é quem precisa tomar vergonha na cara, e não os políticos."

"É inadmissível que uma empresa pública use dinheiro para patrocinar uma passeata de movimento tão polêmico como esse, inclusive conta com o repúdio da maioria esmagadora da população! É um absurdo! O nosso dinheiro usado para financiar essa vergonha como disse o Lúcio José! Tomara que venha logo a CPI das ONGs para desmascarar esses absurdos! Para dizer para onde vão os 18 milhões de dólares que o Viva Rio recebe da Fundação Ford e ainda tem que receber dinheiro federal, municipal e estadual!"










terça-feira, 2 de outubro de 2007

...ainda Caio


A carta é apenas um meio de comunicação manuscrito ou impresso, endereçado a uma ou mais pessoas, mas sempre possui um algo a mais, um elemento transcendente.
Ainda mais quando o escrevente é um escritor, aí toda a coisa muda de figura...qualquer breve detalhe da correspondência pode ser uma janela aberta para um mundo.
O livro “Cartas” de Caio Fernando Abreu mantém todo um caráter especial, e, hoje, depois da morte de Caio, estas mesmas cartas trazem uma aura de espólio autobiográfico e afetivo, além do caráter literário.
Caio era trancendental como pessoa, suas observações da vida e do mundo eram de todo lugar, sua visão de mundo era cosmopolita.
O responsável pelo livro foi o professor Ítalo Moriconi, que é organizador de Caio Fernando Abreu: Cartas, dedicado ao escritor, contista e jornalista gaúcho. O livro reúne a correspondência enviada pelo autor a mais de trinta destinatários...
“Nuvens negras. Insistimos. Sobrevivemos. A casa tá limpinha, o incenso queima, a roseira tá — medo — sem nenhuma rosa no momento, quarta vou jantar com Maria Adelaide Amaral e quinta ver Bailei na Curva (o Julio Conte ligou hoje). Fica feliz. (...) Você é maravilhoso demais, menino. Se convence, tchê. Me queira bem sempre. Sinto saudades fortes. Faz pensamento bom pra minha cabeça e meu corpo resistirem impávidos & legais, preu achar um moço que diga que sou bonito e não vive sem mim. Te beijo. Te cuida bem. Axé, vários axés.”- Carta para Luciano Alabarse, de São Paulo, 9/7/1994
“Impossível não pensar em você bebendo literalmente litros de água Perrier todo o dia - o aquecimento seca horrores a pele! -, mas não só por isso. Também procuro as cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo (vi uma autêntica na Fiac, em Paris!), que aqui, neste porto de mar na Bretagne, entre Nantes e Brest, a cidade de Querelle, são bastante raras. São mais cores.”- Carta para Adriana Calcanhotto, de Saint-Nazaire, França,16/12/92
“Quanto à mim, aconteceram — ah! — algumas tragédias do coração. Diálogos ridículos, tipo, és-um-mito-para-mim e eu dizendo que os mitos também trepam. Tudo isso em pleno Rádio-Clube, no meio de um show de Ângela Ro-Ro. Nada mais perfeito. Tomei um porre de vinho, tiveram que me trazer em casa. Chorei a noite toda, dei vários telefonemas desesperados. Só me puteio por ter me enganado outra vez. Mas gosto de perceber que as dores são cada vez mais rapidamente superadas.”- Carta para Luciano Alabarse, de São Paulo, 1o/6/1984

“Estava com a carta pronta ontem, quando aconteceu uma coisa e não deu para colocar no Correio. Reinaldo Moraes, aquele meu grande amigo, foi visitar a mãe dele, por volta do meio-dia, e encontrou-a morta, caída no chão da cozinha (...) Resultado: alguns amigos tiveram que segurar junto. Quando vi, estava no meio da coisa. Tipo, vestir a morta, agitar caixão. Essas coisas. Eu nunca tinha visto ninguém morto, exceto Elis, no caixão. Fiquei muito impressionado, mas fui mais forte do que imaginava. O enterro era hoje de manhã, mas não tive coragem de ir, depois de ter ficado no velório ontem, até tarde. Tenho a impressão que alguma coisa muda E muda forte. Não sei bem o quê. É como se estivesse muito mais velho. Assim como se um contato frontal com a morte fosse a única coisa que faltava para ficar definitivamente adulto. Pois é. Era terrivelmente real. E feio. E vazio — alguma coisa já não estava mais lá. A alma? Pode ser.” - Carta para Luciano Alabarse, de São Paulo, 9/7/1994

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Onde andará Caio F.?


Fui na Pré-Estréia do filme “Onde Andará Dulce Veiga” do Diretor Guilherme de Almeida Prado no Festival de Cinema do Rio, o roteiro do filme é baseado em um romance de Caio Fernando Abreu. Com isso tive saudade de reler Caio F, por isso trouxe um pouco dele aqui...
Trecho de Carta ao Zézim de Caio Fernando Abreu

Porto, 22 de dezembro de 1979

“(...) Certo, eu li demais zen-budismo, eu fiz ioga demais, eu tenho essa coisa de ficar mexendo com a magia, eu li demais Krishnamurti, sabia? E isso frequentemente parece um pouco ridículo às pessoas. Mas, dessas coisas, acho que tirei pra meu gasto pessoal pelo menos uma certa tranqüilidade.

Você me pergunta: o que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tudo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.

Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever? Ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? Sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. Mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? Cadê o romance, quedê a novela, quedê a peça teatral? DANEM-SE, demônios. Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.
Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.

É esse tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço do pato. Que, freqüentemente, é muito caro. Ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na CultUra, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci / conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo.
Raramente me engano.Zézim, remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto. Sobretudo, não se angustie procurando-o: ele vem até você, quando você e ele estiverem prontos. Cada um tem seus processos, você precisa entender os seus. De repente, isso que parece ser uma dificuldade enorme pode estar sendo simplesmente o processo de gestação do sub ou do inconsciente.E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente.
Ou então vá fazer análise. Falo sério. Ou natação. Ou dança moderna. Ou macrobiótica radical. Qualquer coisa que te cuide da cabeça ou/ e do corpo e, ao mesmo tempo, te distraia dessa obsessão. Até que ela se resolva, no braço ou por si mesma, não importa. Só não quero te ver assim engasgado, meu amigo querido.”